sábado, 4 de dezembro de 2010

As conjecturas

A conjectura soberba e fugaz domina qualquer entidade;
Não poderemos nos ajoelhar diante Dele
E dizer: fiz porque me mandaram, fiz porque me fizeram fazer;

Mas como? Se a alma, mesmo que errante,
Pertence a si mesma e não a ninguém mais?

A voz que ecoa dentro de ti
Nada mais é do que o Gênio Maligno que te atormenta,
Obriga-te a lamuriar e a sobrepujar,
Nada mais importa senão a velha rotina mundana,
Perdida,
Medíocre;

Nada mais importa senão o livre arbítrio
Que
Não é tão livre assim.

Sim,
A voz te obriga a conjecturar,
A voz te obriga a suportar tantas e tantas lágrimas
Que
Rolam-se no semblante vazio,
A voz te obriga a ouvir o tilintar dos tic – tacs
Daquele velho relógio que dependurado, e à espreita,
Observa com a sua face alheia o dilatar dos vasos nervosos;

Com a face voltada para a Lua,
Cheia,
Cavalgo nesta aventura que é o de respirar;
Ao meu lado um fóton,
Que ao atirar-se na brecha da colina,
Desapareceu;

Agora,
Chegada a minha hora,
Nada mais faço senão ajoelhar-me diante de Ti
E
Dizer: fiz porque me mandaram, fiz porque me fizeram fazer,
Nada me resta senão conjecturar
E
Perceber que nada mais fiz e nada mais sei do que ser um perdido espaço vazio.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sem Título

Toma!
te entrego esta flor,
me serve um palito de fósforo com o qual acendo um cigarro;
Por que você observa a ponta que se queima?
O tic-tac do relógio e o som das lágrimas que se rolam de seus olhos
brincam com o esvoaçar da fumaça;

De repente o medo invade o meu corpo;
Em vão tento me ajoelhar,
pedir súplicas desesperadas
para aquela que me levará;

Mas, calada, chegou num silêncio medonho,
E, agora,
sorri enquanto chora,
e à espreita observa-me sentir o ultimo calor
fazer o seu papel;
sinto-me bem;

Mas acordo e volto a observar esta flor,
em suas mãos;
Ela me espera,
paciente,
sorridente,
chorosa;

Com o cuco a despertar,
te entrego esta flor: Toma!
Porque é chegada a minha hora.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Rapsódia sobre o tema de “Invictus”*


Nos caminhos errantes da alma,
Soergue-se uma força oculta que abate e fere,
Gravemente,
A alma dos homens;
Sentem-se impelidos a buscar a comodidade
E a luxúria do apoio, aparentemente desconexo,
Daqueles que fortes proclamam-se;
Reinvidicam o poder do ultimo gole de vinho, mas,
No entanto, apunhalam-se, engalfinham-se mais.

Tudo está perdido como a saída inexistente do poço seco,
Sem água,
Gradativamente os homens sentem-se pequenos,
Esmagados, dilacerados;
Não compreendem que o fim, em sua ânsia,
Espreita-os com um leve sorriso.

O grande poder proclamado observa,
Com grande serenidade,
O amargo sangue escorrer pelas narinas;
A energia esvai-se, o paradigma é destruído,
Os joelhos no chão.

O gosto da perda torna-se mais intenso,
E agora, o fim está próximo;
As cabeças, chocalhos,
Os corpos, carnes dilaceradas,
As almas, errantes,
O fim, próximo, mas digno;
Minimamente restam-lhes alguns segundos.


Como a luzes que se acendem,
Como a energia que volta,
Levantam-se e finalmente percebem,
Apesar de tudo,
O “mundus invictus” que carregam dentro de si e
De como podem sim proclamar:
Sim, nós podemos,
Sim, nós somos capitães de nossas almas.





*Poema “Invictus” de William Ernest Henley, escrita em 1875 e primeiramente publicado em 1888. Ele foi escrito quando Henley estava internado e acamado num hospital.